13 janeiro 2013

Beque Esquisito

Vinte e poucos anos, mas pequeno como um triz. Magro como uma fresta. Fraco feito a gratidão. Mas queria ser beque.
O chute era murcho, como se dado debaixo d’água. A lentidão era a de uma fuga no sonho. Enxergava em braile. Mas queria porque queria.
Desestimulavam-no. Só que ele era teimoso, parecia um trauma. Ia aos treinos. Ficava ali no barranco, ao lado do técnico.
Que teve dó – “ele tem a bondade de um idiota”, dizia! – e o escalou no jogo do infantil contra o bairro vizinho. Jogo de festa. Não valia nada. E a molecada adversária deu um vareio: 10 a 0! Tudo, aos risos próprios e de todos, em cima do “beque esquisito”.
Mas ninguém falou nada com ele.
Que estava incomparavelmente feliz.
Porque felicidade não tem metáfora.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)