18 novembro 2014

Paro Ano Sai Milhó

Eu já posso até ouvir o coro ensaiado: "xaaaaaaaá! xalaia laiá! Xalaia laiá! Vamos subir, Esquadrão!".
Bateremos recordes de público. Teremos jogos incríveis contra times do interior de São Paulo, Minas, Alagoas e Ceará. Clássicos inesquecíveis em estádios lotados e decorados com as cores e bandeiras tricolores irão chamar atenção nos noticiários locais e nacionais, quiçá internacionais.
Binha dará entrevistas sensacionais, confirmando o que todo mundo já sabe, que o Bahia é e sempre será o melhor time do mundo. Nunca se venderá tantas carteirinhas de sócios como no ano que vem.  As lojas do clube viverão lotadas de torcedores comprando canecos, chaveiros, isqueiros, canetas e roupinhas de bebê do Bahia.
A ladeira da Fonte se encherá de alegria todas as terças e sextas, fazendo do meio da semana da capital baiana um verdadeiro carnaval azul, vermelho e branco. Um fuzuê de alegria tricolor. Vendedores de churrasquinho terão que se planejar para garantir o estoque.
As cervejas Itaipava ao redor do estádio venderão como água. A batucada de antes do jogo animará a torcida com versões maravilhosas de musicas dos Mamonas, Chiclete e Ivete. Trios elétricos estarão de sobreaviso desde o primeiro jogo - contra o Brasiliense, quem sabe.
Os vendedores de camisas do Bahia ao redor do Dique terão uma renda espetacular com o aumento da procura dos seus produtos do Paraguai. Quem precisa da Nike, quando temos aqueles chineses maravilhosos?
A prefeitura terá que organizar e planejar muito bem o serviço de transporte público para atender a demanda da multidão que se deslocará para os jogos depois do expediente.
Engarrafamentos inacreditáveis provocarão estresse e impaciência nos torcedores, que, mesmo cansados e entediados pelo trânsito lento, não abrirão mão de acompanharem os jogos do Bahia, minha porra.
Os jogos da Arena provocarão matérias incríveis de todos os telejornais esportivos do país, que reconhecerão a paixão e fidelidade da torcida tricolor.
Galvão Bueno comentará no Bem Amigos, toda segunda, que o Bahia, a cada jogo, enche mais e mais o estádio, batendo sucessivos recordes de público e renda. Vendedores de pipoca dormirão preocupados com um possível ágio no preço do milho, haja vista o aumento da procura da plateia pelo cereal.
Saudosistas dos roletes de cana e dos saquinhos de amendoim cozido reclamarão da ausência dessas iguarias no estádio nas resenhas do Bocão. Marcio Martins e Sinval Vieira terão um aumento absurdo de ouvintes querendo participar de seus programas, engarrafando as linhas da rádio e provocando revolta nos que não conseguirem com eles falar.
Os jogadores do Bahia irão estampar capas de jornais e revistas, ao lado de beldades saradas e sinceramente apaixonadas, do fundo dos seus sentimentos mais profundos, por presidentes da CBF e afins.
E o Bahia, orgulhosamente, mostrará para o mundo, com a desenvoltura e inteligência de um time forte e bem estruturado - que preza o planejamento e modernidade - que muito melhor do que ser rabo de tubarão, é ser cabeça de bacalhau. Ou de sardinha. Ops...
(Texto de Manno Góes)