03 junho 2016

Grito do Tarzan

Ele não era importante na charanga: tocava reco-reco. Quase não era ouvido perto do tarol, do pandeiro, do pistão e do surdo na animação da torcida – que eram só algumas dezenas de espectadores nos degraus atrás do alambrado.
Mas jogo sem ele era sem graça. É que toda vez, no meio do segundo tempo, ele, fraco, magro, calado, largava o reco-reco, pedia silêncio e fazia o que era a atração principal, muito maior do que o jogo e a charanga.
Paravam todos para ver e ouvir. Jogadores, juízes, torcedores, charanga, tudo.
Ele punha as mãos em conchas ao redor da boca e soltava o grito do Tarzan do Johnny Weismuller. Aquilo levava uns 20 segundos. Ecoava ao redor do campo, reverberava nos morros, alertava pássaros e motoristas longínquos, dividia a tarde ao meio.
No final, abria a camisa e dava socos no peito magro.
Depois, o jogo, o reco-reco, o resto da tarde, agora mudada.
Era o que valia a pena.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)