23 junho 2016

Rechonchudo

Entrou na sala no primeiro dia de aula.
A turma caiu na gargalhada.
Gordo!
Difícil achar banca para sentar.
O mundo era dos magérrimos adoradores de verdura.
Achou a banca.
Ficava no fim da sala.
Melhor assim.
Quem sabe esqueciam dele?
Raquel sentava ao lado.
Olhos negros e sorriso inacessível.
Ele era gordo.
Meses se passaram.
Jogos colegiais.
O time ia disputar a final.
Téo pegou catapora.
E agora?
Téo era o craque da escola.
O homem gol de olhos azuis.
O time ia jogar com dez quando alguém lembrou:
‘Bota o Gordo!’
O Gordo ficou sem jeito de recusar.
Até Raquel achou graça e deu uma força.
O Gordo jogou com uma camisa rasgada nos flancos.
Primeira bola que chega.
O Gordo domina, enfia por debaixo da perna do marcador e toca no canto.
Espanto!
O Gordo sabia tudo de bola… e algo mais.
A bola chega e as chuteiras adversárias voam a seu encontro.
Primeiro com lealdade.
Depois com pura maldade.
O Gordo deixa a todos na saudade.
Marcou cinco gols nas redes inimigas.
Foi carregado nos ombros, com muito esforço, pelos seus agora amigos.
E recebeu um beijo na bochecha dado por Raquel.
A menina dos olhos negros e olhar inacessível.
Daquele dia em diante?
Era o Gordo e mais dez!
(Texto de ROBERTO VIEIRA)