09 outubro 2016

Artificial

Zezonhão era manco. Perdeu o pai cedo. Tinha aquele cuspe grosso, de empoçar o terrão. Lateral esquerdo.
Jucanço, alto, cabeça oca. Nunca viajou. Gostava de canja e de zona. Goleiro.
Lubinito ainda é açougueiro. Aprendeu espanhol. Fedia como um sarnento e não falava nada. Centroavante.
Nhê era espírita e faxineiro. A voz fininha, fininha. Vinha de carroça, dando milho na estrada. Meio-campo.
Minínu ninguém sabia de onde era. Bebeu raticida quando a mulher se foi, mas deu sorte. Branquelo. Tocava gaita. Zagueiro.
São os que sobraram. Um dia, no caminhão que tombou, morreram seis. O time acabou.
Às vezes se veem por acaso, na quermesse, luzinhas chinesas, pastéis, cachaça, funk, gritos. Mas se evitam, afastam-se, sozinhos.
Não era nada. Um timinho de jogar aos domingos nas roças que durou algum tempo. A maioria nem se lembra.
Um ou outro, bem mais velho, é que, quando os vê por ali, nas barracas, fala de partidas, vitórias, derrotas. O Lubinito, de esquerda…. Teve uma vez um clássico…. No ângulo, no ângulo! – e o Jucanço pegou!. Um que eu não lembro o nome, que espanava tudo….
Mas, quando estouram os rojões, todos param pra ver a chuva de cores e de fumaça – e o assunto acaba.
Assim como o time.
Como os fogos.
Como a vida.
E como este texto.
De repente.
Texto de Luiz Guilherme Piva, autor de “Eram todos camisa dez” (Editora Iluminuras).