25 outubro 2017

Perdendo Sempre

A TV pequena, em preto e branco, cheia de chuviscos, faixas horizontais e verticais, sem som, ficava no fundo do botequim.
Os da frente ainda viam um pouco. Os do meio pra trás tinham que deduzir.
Mas todos vidrados em sagrado silêncio.
Fumo, cachaça, rapadura, pão velho.
Do lado de fora, nada.
Um terreno perdido e vasto.
Empoeirado.
Depois de morros e trilhas.
Era o único lugar por ali em que o pessoal das roças de todas as distâncias podia ver futebol.
Um deserto marrom.
Tufos de mato secos, queimados.
Cercas.
Só o telhado de amianto do boteco e a espinha de peixe da antena quebravam a paisagem.
Bicicletas velhas na porta.
As botinas do lado de fora pra não sujar o recinto.
Calor e moscas.
O ar parado.
De noitinha, todos de volta às suas distâncias.
À partida que eles venciam fugazmente naquelas horas de futebol aos domingos.
Todo o resto, antes e depois, dentro e fora do botequim, sem o futebol, era derrota.
E sem ninguém pra assistir.
(Texto de Luiz Guilherme Piva)
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